(COMPANHIA DAS LETRAS)
Ex-jesuíta, JACK MILES fez seus estudos religiosos na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, e na Universidade Hebraica em Jerusalém. É doutor em línguas do Oriente pela Universidade de Harvard. Foi presidente do Círculo Nacional de Críticos Literário.
Este livro lhe proporcionou o Prêmio Pulitzer de Literatura de 1996.
Veja o que publicou Mark C. Taylor, escritor, teólogo e um dos grandes filósofos da América, Chefe do Departamento de Religião da Universidade de Columbia:
"Deus, uma biografia marca um momento decisivo na história da crítica da Bíblia. Até hoje, ninguém havia tido coragem de transformar a tradição intelectualmente intimidante de duzentos anos de estudos históricos da Bíblia numa visão do Livro Sagrado como obra de arte. Jack Miles, educado nessa tradição, mas independente dela, conseguiu, e o resultado é nada menos que a descoberta de Deus como protagonista da Bíblia. Ninguém leu as Sagradas Escrituras dessa maneira antes dele. Muitos desejarão lê-las dessa forma no futuro".
HAROLD BLOOM, grande escritor americano e crítico literário escreveu:
"Inteligente e movimentada vida de Javé, o maior personagem literário do Ocidente. Como Boswell de Javé, Miles demonstra admirável compreensão da personalidade infinitamente metamórfica e do imprevisível caráter moral de seu personagem."
A minha leitura de Jack Miles é a seguinte:
Ao tratar a Bíblia como uma livro de literatura e Deus como seu protagonista, o autor, sem as amarras de uma visão teológica ou dogmática, pode analisar os episódios contados sob a ótica crítica da lógica e da racionalidade. Os diálogos de Deus com Abraão e com Sara, sua mulher inicialmente estéril, mostram a disputa de um Criador atormentado pela fertilidade humana, querendo que seu escolhido, Abraão, criasse uma grande nação, de tantos quantos fossem os grãos de areia das praias da terra, mas lhe dá uma Sara estéril. Perde credibilidade com ambos e fica enfurecido quando Sara ri em sua cara, ao receber a notícia de que estaria dando à luz no ano seguinte ao herdeiro tão desejado por Abraão, mesmo estando próxima aos cem anos de idade!
Por sua vez, Miles mostra que Abraão percebe que pode controlar os ímpetos divinos, pois tem um trunfo em suas mãos, que é a quase exclusiva dependência de Deus, naquilo que ele, Abraão, vier a fazer ou deixar de fazer.
Deus acaba sendo forçado a fazer uma aliança com ele, cujo símbolo acaba por marcar indelevelmente o povo de Israel, a circuncisão.
Ao tentar tratar o protagonista como um personagem normal de uma trama literária, Miles deparou-se com uma dificuldade: Deus não tinha passado, não teve um pai ou uma mãe, não teve companheiros, ou seja, era um personagem sem história e isso o tornava sui generis, pois suas reações não podiam ser justificadas por uma experiência real, que tivesse forjado suas idiossincrasias e concepções.
Assim, Miles mostra que seu protagonista, também não apresentava uma personalidade imutável, mas que também foi se ajustando, à medida que a convivência com sua criação foi se tornando social e psicologicamente mais complexa. Ou seja, a evolução da raça humana forçou uma mudança gradativa e contínua de personalidade do Criador para que este pudesse se adequar aos novos tempos.
Culto, inteligente, profundo conhecedor das Escrituras, Miles em nenhum momento questiona dogmas ou questões de fé ou discute a própria existência de Deus. Prende-se tão somente à analise literária sem nenhuma ofensa à religião, razão porque considero um livro excelente a religiosos e aos nem tanto.
Um comentário:
Caro Amigo Santilli
Estou impresionado com sua capacidade de leitura. Gostei muito da sua sinopse sobre o livro, pretendo lê-lo.
Abraços
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